29 Dec
29Dec

Um spin-off ambientado dez mil anos antes dos eventos dos filmes de Denis Villeneuve e da ascensão de Paul Atreides, a série, em seu primeiro ano não se deixou amarrar-se nos conceitos da trilogia original. Mesmo explicitando alguns conceitos e complicando outros, encontramos uma história que é digna de nossa atenção. Ambientado no universo criado pelo escritor norte-americano Frank Herbert [1920-1986] a história funciona independente dos filmes. Duna: A Profecia é um deleite para quem curte uma boa fotografia, figurinos esplendorosos e uma trama marcada por intrigas e ambições. Tais armadilhas funcionam tanto para o bem, quanto para o mal. O poder e os planos em prol das conquistas são marcados por um roteiro muito bem afiado, bem escrito e com diálogos de tirar o fôlego. 

Outro grande acerto são as atuações. Mulheres muito bem colocadas em seus postos de fala conseguem driblar a ousadia da história e deixar a marca da sororidade atrelada à sede e necessidade de ascender também para os postos sócio-políticos. A série é protagonizada pelas irmãs Harkonenn Valya [Emily Watson] e Tula [Olivia Williams]. Responsáveis em comandar a Irmandade, as irmãs empreendem um plano perigoso que envolve tomada de poder, vingança, assassinatos e tirania. Toda a primeira temporada fica concentrada nas tramas e investidas que as Harkonenn realizam. Num segundo plano, Desmond Hart [Travis Fimmel], surge como uma “entidade” misteriosa e perigosa. Colocando tudo a perder, ele contamina os pensamentos do Imperador [Mark Strong] e põe em perigo os planos da Irmandade. 


Harkonenn e Atreides: “treta” de família 

Chega a ser cômico – e isso, neste contexto não é um elogio – toda a história que envolve as relações entre a Casa Harkonenn e a Casa Atreides. Enquanto que a primeira se sente ofendida e desprezada pelo convívio social e acaba construindo uma reputação ancorada no medo e na feitiçaria, a segunda vive se escondendo e tramando sua vingança às escondidas. Estes sobrenomes nos são conhecidos por conta dos filmes, mas ter esta informação não contribui muito para compreendermos o que essa literatura pretende nos propor. Tudo se resume a Valya Harkonenn e sua necessidade em fazer da Irmandade um conselho respeitado em toda a galáxia. Fazer da Irmandade o centro de toda e qualquer decisão. Há anos, Valya e Tula fazem da Irmandade um refúgio e um lar para jovens mulheres que precisam de uma segurança ao mesmo tempo que precisam de um lugar na sociedade de respeito e valor. 

Os seis episódios que compõem a primeira temporada funcionam como uma grande nota introdutória – e põe grande nisso – episódios que ultrapassam os 70 minutos cada precisam de fôlego para dar conta de introduzir a temática central. A série encontra seu ponto de ignição quando a jovem aprendiz da Irmandade Lila [Chloe Lea] evoca uma de suas ancestrais e esta revela os segredos obscuros e criminosos das irmãs Harkonenn e tudo aquilo na qual a Irmandade foi construída cai por terra e torna-se uma organização frágil e com o futuro incerto. 

Um último ponto a ser comentado é sobre a personagem do vilão, que, ao mesmo tempo que entendemos ser as Máquinas Pensantes, depois passa a ser o estranho Desmond Hart, depois, um vírus letal que se alimenta do medo – Dormammu, é você? – e, por fim, a própria Harkonenn... A definição de um antagonista fica confusa e isso nos tira um pouco do ritmo que uma série com episódios tão longos precisa para nos prender a atenção... A temporada, de todo modo, consegue nos dar um final justo, fechando arcos narrativos e, o fato de Valya terminar refugiada em Arrakis – outro nome conhecido nosso – gerou uma expectativa para a segunda leva de episódios. Não é aquele tipo de série maratonável, dado a sua grandeza tanto em minutos, quanto em conceitos e filosofias abordadas, mas é um bom aperitivo para nossas noites.




Por Dione Afonso  |  Jornalista

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