28 Apr
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Dirigido por Mohamed Diab, escritor, roteirista e cineasta egípcio, Cavaleiro da Lua só vem confirmar o que já estamos acompanhando desde WandaVision nessa nova fase de construção da jornada do herói. Um super-herói não é feito de grandes poderes, força sobre-humana, atos de heroísmo e vitórias. Há também, o outro lado da moeda. Wanda Maximmoff, para se tornar a Feiticeira Escarlate teve que aprender a superar a dor do luto; Sam Wilson, para se tornar o novo Capitão América, teve que enfrentar o racismo e a indiferença social para que a América aceitasse um super-herói negro; Loki, teve suas lutas existenciais e discussões afetivas a respeito da homossexualidade; Clint Barton, precisou ajudar Yelena Belova a aceitar o sacrifício da irmã Natasha Romannoff e desistir do sentimento de vingança... 

Já Steve Grant/Marc Spector, para se tornar o Cavaleiro da Lua é sobre doença mental. O personagem precisou enfrentar uma dor ainda maior: a rejeição da mãe que o culpou a vida inteira por ter matado o próprio irmão. Tal dor fez de Grant um jovem e adulto que passou a viver um mundo de imaginações e de loucuras no qual ele precisou criar um amigo imaginário, situações imaginárias para que pudesse superar a dor de ter uma família que não o acolheu nos momentos de perda e de luto, além da violência provocada pela mãe que perdeu a esperança depois de ver o filho mais novo morto. 

Não é tão fácil assim tornar-se um super-herói, na verdade a linha entre o heroísmo e a vilania é muito tênue. O Cavaleiro da Lua, torna-se um punho vingativo a serviço do deus Konschu. Um deus que decide quem vive e quem morre. Quem é bom e quem é mal. Em sua personalidade heroica, Marc esconde suas dores e descarrega toda a sua raiva no “serviço” que lhe é dado. O resultado disso é que, quando confrontado diante de suas dores e traumas, Marc não sabe lidar com toda a rejeição com que viveu a vida inteira e sacrificar toda a imaginação que construiu é perder o rumo da própria vida e não saber mais o que fazer. 

Marc Spector precisa vencer o seu transtorno dissociativo de identidade. Ao ter contato com o deus vingativo Konschu, o alter ego de Marc, o amigo imaginário Steve tornou-se sua válvula de escape. Essa foi a maneira que Marc encontrou para vencer o trauma de ter sido acusado de matar o próprio irmão e depois, de ter sofrido abuso violento de uma mãe ressentida e amargurada que não soube lidar com a perda. Tudo se tornou uma doença mental, por isso a metáfora da clínica de reabilitação e as memórias em formas de salas e portas. A nossa mente é sempre um mistério pouco explorado que sabe guardar de tudo, desde o bom até os rancores. 

Por fim, a Marvel está entendendo que para ser um super-herói, é preciso lidar com as lutas que cada um de nós carregamos dentro da gente. Não é simplesmente estar munido de grande força e poder; é preciso ser forte e estar firme com as próprias situações da vida. Por mais frágil que cada um de nós somos, por mais fortes e pesados sejam os traumas que carregamos, ser um super-herói é a certeza de que jamais canalizaremos as nossas forças para fazer o mal e tornarmos um sociopata. Ser fraco e lidar com a fraqueza com coragem é o primeiro ato para se tornar um herói.




Por Dione Afonso  |  PUC Minas

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