22 Mar
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Em 21 de dezembro de 1937, os Studios do Walt Disney Animation entraram para a história quando lançaram Branca de Neve e os Sete Anões. O primeiro longa-metragem todo em animação. O historiador Brian Sibley, especialista na Sétima Arte escreve que “tudo o que veio e vem depois de 1937, desde parques temáticos a outras produções cinematográficas se basearam em Branca de Neve, o que fez da primeira princesa o marco das histórias infantis”. Walter Elias Disney, conhecido como Walt Disney [1901-1966], um norte-americado de Illinois, produtor e cineasta apossou-se, então, de um conto europeu, escrito pelos alemães Grimm. Ele conseguiu costurar a Literatura Europeia com o “sonho americano”. Música para conduzir a narrativa, toques de humor para provocar boas risadas, emoções humanas e histórias de amor e amizade foram as inovações que Walt adicionou aos seus filmes. Ele foi o primeiro a integrar cinema e música, diálogo e trilha sonora em longas-metragens de animação. 

Hoje, 88 anos nos separam da animação de 1937 do novo live-action dirigido por Mark Webb. Nele encontramos boas atuações de Rachel Zegler como a Princesa e de Gal Gadot como a Rainha Má. Ganha destaque também o jovem ator Andrew Burnap como Jonathan, o príncipe da história original, que no live-action ganha outro lugar de fala. Num determinado instante, encontramos uma jornada que assume uma áurea de Robin Hood quando vemos os paralelos entre os 7 anões, ali, caracterizados como criaturas mágicas de quase 300 anos, amigos e defensores da floresta e os 7 ladrões, comandados pelo capitão Jonathan, amigos e leais ao verdadeiro Rei e defensores dos pobres e do povo. A nova tão antiga história assume novas roupagens, mas não conquista com o mesmo encanto. 


Poderoso, mas sem impacto 

A história original é, sem dúvidas, forte, impactante, vestida de poder e de profundos sentimentos reais e sinceros. Quando a Animação de 1937 teve sua primeira exibição em Los Angeles, Califórnia, a obra de uma hora e meia arrancou lágrimas do público por sua profundidade e ousadia. Produzir um longa-metragem todo em animação era uma ideia que estava além do habitual para aquela época. Uma obra corajosa e que rompeu barreiras, inaugurou uma nova era e marcou longas gerações. A versão de 2025 perde em momentos cruciais da história. Zegler nos entrega uma ótima Princesa, poderosa, tímida na medida certa, mas que sabe conduzir sua própria história. Foi uma ideia genial colocar o príncipe em outra posição, ver Jonathan do lado do povo pobre e massacrado pela política da Rainha Má confere à história outra interpretação, mais justa e menos desigual. 

Jonathan deixa de ser o homem que salva a garota em perigo e passa a ser aquele que vai salvar todo o povo, vai salvar o Reino. Salvar Branca de Neve passa a ser apenas uma consequência de toda a história, mas salva-la significa salvar seu povo. Tirar todos da miséria e devolver a eles a dignidade da vida humana. Aqui, no discurso isto é belo, mas nas telas, infelizmente perdeu sua força narrativa. O filme precisava ser mais audacioso e conferir nas duas atuações, de Zegler e de Burnap, o poder que o beijo salvador precisava de ter. O discurso teve uma tentativa de se atualizar para este século, mas não soube executa-lo conforme deveria. 

Gadot, apesar de entregar uma Rainha Má, também peca em sua atuação. A atriz não consegue nos pôr medo e não impacta com sua “maldade” teatral. As músicas estão no lugar certo. Os Sete Anões, apesar de terem um CGI péssimo e sem o cuidado artístico, também protagonizam bons números musicais. Os cinemas estão vivendo nesta década uma jornada marcada pelos inúmeros live-actions. Alguns acertam em cheio no discurso que se propõe, outros, infelizmente nos deixam uma imagem pouco construtiva e, outros, ainda nos fazem abandonar a experiência atual afim de nos apegar à original. 


O retorno de Branca de Neve 

O filme ainda consegue manter seus atos separadinhos, muito bem construídos e seus momentos essenciais. O discurso de Branca de Neve no ato final, de frente para o castelo e uma jovem que a vê com a esperança de volta em seu olhar é um desses momentos fortes da narrativa. A capa vermelha traz a cor viva do filme presente em alguns momentos. Mas a fotografia de algumas cenas carregadas de cinza e com o azul desbotado e apagado incomodou bastante a qualidade da história. Não é por acaso que Branca de Neve avança na cidade com as mulheres ao seu lado. É uma mensagem subliminar de que cada mulher tem o direito e a força para comandar sua própria história. 

Não podemos nos esquecer que são duas mulheres poderosas. Uma boa e outra má. A princesa verdadeira contra a Rainha que usurpa do poder que nunca foi dela. Outro acerto foi a decisão do roteiro não se apegar à história da beleza das personagens. Desde 1937 isto já estava claro de que a beleza verdadeira de cada pessoa habita no coração humano, se vê em suas ações de bondade e generosidade. O maior poder é a beleza que pode ser revelada em pequenos atos de coragem. As ideias para a releitura foram boas, contudo, o roteiro que Greta Gerwig assinou não teve a coragem necessária de leva-las até o final. O filme continua honrar com a jornada das princesas da Disney e para a nova geração pode até ofertar boas experiências, contudo, a magia e o poder desta narrativa continuam intactas na história que se aproxima de seu centenário.




Por Dione Afonso  |  Jornalista

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