30 Dec
30Dec

Com o final da grandiosa La Casa de Papel, Alex Pina resolveu investir suas narrativas no personagem de Pedro Alonso, o Berlim. O spin-off é bem antes do personagem desenvolver a doença que tanto recebeu destaque na primeira temporada da série original. Em nova aventura, o roubo de joias da França instiga a polícia, não só local, mas de quase toda a Europa. Alonso se junta a Julio Pena, como Roy, o jovem capaz de abrir qualquer fechadura; Michelle Jenner, que é Keila, a cientista doutorada e uma hacker de respeito; Tristan Ulloa, o Damian, o adulto e o cérebro de todo o plano; Joel Sanchez, como Bruce e Begona Vargas, como a estranha e confusa Cameron. Berlim e sua equipe decidem roubar a Casa de Leilões da França, responsável em guardar as joias imperiais da realeza. 

Os nomes de países, aqui dão lugar a um time de cinco pessoas dispostas a mudarem o rumo de suas vidas; e nada de macacões vermelhos e nem máscara como marca. O famoso "Bella Ciao"?, Aqui, nem sinal. Mesmo tendo dúvidas se conhecemos suas verdadeiras identidades ou não, estamos lidando com pessoas comum. Com menos adrenalina que aquela que o Professor nos deu em suas aventuras. Pina, parece focar em Berlim com outros interesses para além daqueles que os episódios nos revelaram às claras. Berlim é um homem capaz de se apaixonar profundamente. Nunca em meio termos. Tudo é sempre intenso e forte e verdadeiro. Com a chegada de Berlim, mesmo com uma primeira temporada bem costurada, temos a sensação de que este pode não durar por muito tempo. Não se tem muito o que ser explorado. 


Sem deixar pontas soltas 

A regra maioral aqui é “não deixar pontas soltas”. E é aqui que a série guarda seus segredos e suas novidades. Roy e Cameron protagonizam um casal com passados traumatizados, confusos, enigmáticos e sempre com aquele ar misterioso e de segredos. Por outro lado, foi difícil classificar a relação da dupla que se formou entre Bruce e Keila. Ela, uma mulher vivida – apenas de idade, 36 anos – ao lado de um jovem bonito, viril, charmoso e, segundo ela, com cheiro de homem. Foi uma dinâmica interessante que Pina teve ao dividir o grande grupo e duplas. Contudo, se por um lado, foi necessário para fechar a narrativa, por outro, ficou algo sem grandes motivações e alguns aspectos da história ficaram confusos e sem explicação. 

Enquanto isso, ficamos enojados e com sentimento de “não quero mais”, quando a história volta a Berlim. Um homem ganancioso – tanto no dinheiro quanto no amor – que não quer perder a chance de viver um grande amor. Enquanto o restante da equipe faz das tripas coração para que o roubo funcione e não deixe nada sem ser resolvido, somos obrigados a acompanhar um Berlim de falso-francês, boêmio e apaixonado que se esquece do porquê que está na França e segue atrás do que ele chama ser a mulher de sua vida. A série já abre o primeiro episódio revelando que ele tem seus problemas e suas questões com as mulheres de sua vida. Coleciona já três esposas, três divórcios, três casamentos que se desgastaram. 

Berlim deixa muitas pontas soltas e Berlim, o personagem, é o que mais deixa pontas sem ser amarradas e concluídas. Damian, o “adulto”, o concentrado, o único com seu juízo no lugar viver um drama familiar que nos ganhou de cheio. Numa ligação, sua esposa pede a separação e, no decorrer dos episódios vemos a decadência de um homem, aparentemente bem resolvido, professor universitário se perdendo, tentando viver um divórcio que não pediu. Ao contrário de La Casa de Papel, aqui sabemos da identidade verdadeira de cada personagem: um professor universitário, uma recém saída de uma casa de recuperação, uma profissional do mercado tecnológico e da IA, e por aí vai... 


As três mosqueteiras 

Quando o roubo é notificado, quando se descobre que o cofre da Casa de Leilões está vazio e sem sinal de arrombamento, a delegada local, Marie Lavelle (Rachel Lascar) se junta a delegada da Espanha, Alicia Sierra (Najwa Nimri) e a maravilhosa Raquel Murillo (Itziar Ituno). As três mosqueteiras, especialistas em roubos dessa magnitude se veem enganadas, passadas para trás e feitas de bobas por Berlim e sua equipe. Pina poderia ter nos dado melhores cenas com Lavelle, Sierra e Murillo, estas duas já são nossas conhecidas e conhecemos o potencial delas. E aqui não foi bem aproveitado.  

Maratonar Berlim é um ótimo presente de Ano Novo. É perfeito, tem pontas soltas, mas a temporada já nos deixou claro que essa história terá novos episódios futuros. Se não tiver, ela deixa de concretizar o porquê que veio. A chegada de Sierra faz jus ao que conhecemos dela: uma mulher imponente, sagaz, cômica, mas de uma crueldade que exala no olhar; enquanto que a chegada de Murillo não causou tanto impacto, a sensação foi que, precisávamos dela ali para aproveita-la num futuro próximo. Se esse futuro vai chegar, ainda não sabemos. 

O roubo desse time espanhol continua grandioso, suas jogadas, armadilhas e a ardilosa capacidade de se desvencilhar dos inimigos, policiais e de quem estiver atrás deles ainda nos enche os olhos. Ponto super positivo para a ideia de Roy, de viajar da França a Espanha, camuflado junto de Cameron, no alto de um caminhão baú de transportes.





Por Dione Afonso  |  Jornalista

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