O MCU acertou muito quando expandiu seu universo ao decidir entrar para a TV. Sua primeira série WandaVision foi uma das melhores criações até então. Talvez a única. Infelizmente, depois de abrir novas portas, outras possibilidades de narrativas e de personagens para contar suas histórias, foi só ladeira a baixo. Tivemos outras produções televisivas que não compreenderam que a linguagem da TV era diferente. Que precisava de mais cuidado com o roteiro e com a história que estava disposto a contar. A série protagonizada por Elizabeth Olsen e Paul Bettany foi um sucesso estrondoso, uma carta de amor à história da televisão desde suas sticoms até as grandes séries de drama. Contudo, o caminho que se percorreu depois disso nos decepcionou.
Agora, chegou o primeiro derivado de WandaVision: Agatha Desde Sempre. Personagem da atriz Kathryn Hahn que ganhou destaque na minissérie original. Uma bruxa com poderes o bastante para enfrentar a Feiticeira Escarlate, mas, mesmo com tanto poder, Wanda Maximoff [Olsen], mostrou do que é capaz e que não seria qualquer bruxa que iria derrota-la. A série de Hahn segue exatamente do ponto em que WandaVision parou, trazendo, também os eventos que ocorreram em Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, nos cinemas, que plantou em nós a sementinha da dúvida: a Feiticeira, de fato, morreu? O grande ponto positivo da série é seu grande plot twist, que, aliás, combina muito bem com a personalidade sarcástica de Agatha Harkness.
O grande nome por trás de toda esta produção não poderia ser outro: a estadunidenses Jac Schaeffer, que era responsável por WandaVision, retorna para contar a história de Agatha. E a conta muito bem. Famosa por não ter um coven, a bruxa reúne Jennifer [Sasheer Zamata]; Alice [Ali Ahn]; Lilia Calderu [Patti LuPone] e Mrs. Hart [Debra Jo Rupp]. Junto de seu coven, Billy Maximoff [Joe Locke] e Rio Vidal/Morte [Aubrey Plaza] também acabam percorrendo o Caminho das Bruxas. A série nos entrega, além de excelentes atuações, visuais emocionantes, fotografias muito bem equilibradas, enquadradas e bem coloridas. A interação de Locke com atrizes de renome e com uma filmografia de respeito o coloca num novo patamar.
Claro que no início, a identidade de Locke é “protegida” por um feitiço de ocultamento, mas o jovem não se retrai, continua seguindo seu caminho. Aliás, caminho este que ele o conhece muito bem – plot twist. A diversidade e representatividade da série precisa ser observada com respeito e admiração. A começar com os pais de Billy/William, uma família judia e que cumprem vossos preceitos. É lindo e emocionante o episódio que narra a história de William, que também é Billy em seu Bar Mitzvah, uma cerimônia judaica que marca a passagem de um menino judeu para a idade adulta e a maioridade religiosa. Além de ser significativo esta inclusão, também temos a idade do personagem, 13 anos. Billy também é um personagem LGBTQIAP+ e sua identidade é colocada na série de uma maneira muito bem feita. Sem forçar a barra, Schaeffer trata de seus personagens do jeito certo: com naturalidade, humanidade, respeito e amor. Como deve ser com todos.
Quando descobre que a bruxa Rio Vidal [Plaza] é a entidade Morte e que esta era um romance antigo de Harkness, também temos outra representatividade significativa. Vale destacar que estamos falando de MCU e tudo isso acontecendo dentro de um universo de super-heróis que nunca deu crédito e protagonismo às heroínas. Aqui, temos uma série de TV que tem como protagonistas, mulheres bruxas e heroínas, mulheres fortes e com presença. Mulheres que também não se intimidam por se revelarem quem são e de quem amam.
Quando a barreira de poder de Wanda desaparece de WestView, seus filhos e o Visão desaparecem, descobrimos que Billy tomou o corpo de William, assim que este morreu num acidente de carro. Acreditamos que o mesmo sucedeu com William. Contudo um dos grandes mistérios da série é descobrir onde está William Maximoff, o filho velocista da Feiticeira Escarlate. Os poderes de Billy também foram pouco explorados. Vimos ele controlando mentes, lendo mentes, manipulando objetos e até lutando contra Morte. Mas, vimos também que, semelhante à mãe, Billy pode criar realidades. E, foi assim que nos entregaram o maior plot twist da série: foi Billy Maximoff quem deu vida ao Caminho das Bruxas. Ele não existia. Nunca existiu. Era uma tática ardilosa que Agatha usou durante séculos para enganar outras bruxas e roubar delas o poder.
Contudo, Harkness fica surpresa ao conjurar o Caminho das Bruxas no início desta série e, pela primeira vez, ele aparecer. De onde ele veio? Por que deu certo desta vez? O que é, de fato, este caminho? E a série trabalhou tudo isto com muitas cores, jogos, testes e risadas. Foi muito bom. WandaVision é uma minissérie, inclusive premiada pelo Emmy. Não sabemos de Agatha Desde Sempre. As cenas finais deixaram um gancho grande para uma possível nova temporada. Mas ainda não há estas confirmações. O que temos é que Billy está com seus poderes e pronto para lutar. William continua “desaparecido”. Agatha Harkness é um fantasma, igual acontece nas HQs. Não temos 100% de certeza da morte de Wanda Maximoff, ou se a Feiticeira Escarlate pode voltar. Jennifer Kale [Zamata] foi a única bruxa que sobreviveu ao Caminho e teve de volta o que tinha sido tirado dela.
Jac Schaeffer nos entregou mais um ótimo trabalho. Não vamos dizer que “faltou coragem” da Marvel em apresentar Tommy aqui. Mas, teria sido mais positivo se assim o fizesse. O não fazer isso nos entregou um clichê que não ficou muito favorável a todo o clima que a série veio construindo. No entanto, este fim não desmereceu o perfeito trabalho que foi realizado em toda a série. Isso nos redime, de certa forma de outras produções televisivas do MCU que não souberam o que queriam nos entregar. Mas continuamos elogiando Ms. Marvel, Echo... WandaVision, que segue sendo a melhor seguida de Agatha Desde Sempre.
Por Dione Afonso | Jornalista