03 Jan
03Jan

Mesmo depois de tantas adaptações e uma trilogia para os cinemas, o Detetive forense e também psicólogo Alex Cross é criação da literatura de James Patterson. Com o grande sucesso que a franquia CSI consolidou na TV aberta, Cross se assemelha bastante à narrativa de investigação criminal quando se depara com um perigoso serial killer que não almeja outra coisa senão a sua fama nas páginas policiais. Atualmente, o que a sociedade vem mostrando a nós é que a natureza humana não mede esforços para obter visibilidade independentemente de suas ações. Em outros artigos temos mencionado o quanto nos assombra o fato de narrativas criminais envolvendo estes serial killers tem despertado o interesse do público e o quanto que o audiovisual tem demonstrado interesse em dar voz a pessoas tão desumanas como estas. 

O time de atores é brilhante! Alex Cross é interpretado por Aldis Hodge, uma potência de atuação. Isaiah Mustafa é John Sampson, cunhado e melhor amigo de Cross e também policial. As crianças Melody Hurd e Caleb Elijah são Janelle e Damon Cross, respectivamente. Juanita Jennings é Mama Nana e, Chaunteé Schuler Irving completa a família Cross como a matriarca Maria Cross. Enquanto Cross precisa lidar com o luto do assassinato da esposa Maria, um serial killer tira o departamento de polícia de sua normalidade. Ryan Eggold dá corpo a um vilão bem interpretado como Ed Ramsey / o Fanboy, como decidem chamar o assassino. Em meio a tudo isso a família Cross é assombrada por alguém que tem sede de vingança e Cross evita ter que lidar com a dor da perda. 


Atento aos sinais 

O personagem Cross, de início nos lembrou muito a Detetive de CSI Cyber. Mas, logo esta semelhança se afasta quando encontramos na obra que Nzingha Stewart; Craig Siebels comandam para o streaming. Cross é muito mais sagaz e consegue ler a alma de cada pessoa, criminosa ou não. É curioso o fato dos diretores Stewart e Siebels não manterem o senso de humor que nos foi apresentado no primeiro episódio o que deu ao detetive uma personalidade mais sombria e dramática. O que faz sentido quando vamos sendo conduzidos por um personagem que não consegue lidar com o luto sozinho e não se sujeita a pedir ajuda profissional. Alguns clichês são sempre notados neste tipo de drama, e um deles é a ameaça do corpo policial de afastar quem, de certa forma perturba a ordem ou age por instinto. 

Outro ponto positivo da série é que conseguimos enxergar os personagens coadjuvantes com as suas próprias narrativas e que elas não estão ali apenas como escada para os protagonistas galgarem e serem conduzidos aos holofotes do sucesso. O melhor amigo, John é aquele personagem que precisa ganhar mais crédito. Talvez uma segunda temporada dê a ele algo mais profundo para se trabalhar e não apenas o posto de melhor amigo do detetive principal. Há uma presença feminina muito atuante e significativa na obra, além de Jennings como a Mama Nana da família Cross, que assume as rédeas da casa após a morte da filha, Elle Monteiro [Samantha Walkes], o interesse amoroso de Cross apresenta um crescimento de personagem muito bom e que pode ganhar ainda mais numa nova leva de episódios. 

Por fim, a primeira temporada teve uma tentativa de inserir na narrativa uma forte crítica social e a pauta do “Vidas Negras Importam”, contudo, o roteiro não deu conta de levar adiante este assunto. Essa quebra danificou o ritmo dos episódios, que resolveram focar apenas nos casos que estavam em andamento. Mesmo assim, uma das cenas finais em que Cross se senta diante de um rapaz que ele agrediu é bastante significativa, pois humaniza o discurso de que gente branca não erra e que o negro é quem deveria pagar o preço. Não! Nesta cena, Cross assume o seu erro, ele, sendo um policial negro que agrediu outro negro simplesmente por tê-lo visto correr. A frase “não cometa este erro de novo”, dita pelo agressor para um policial, cujo compartilham da mesma cor de pele e dos mesmos preconceitos sociais e raciais é digna de nossa reflexão e é um grande acerto para a narrativa.



Por Dione Afonso   |   Jornalista

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