Torna-se até complicado afirmar que temos uma atuação de Bruna Marquezine excepcional nesta obra, pois não conhecemos uma atuação sua que não tenha sido bem feita. A jovem atriz brasileira tem se destacado com seu talento, carisma e força profissional em tudo o que faz. Recentemente os holofotes de Hollywood também mostrou interesse na atriz. Amor da Minha Vida é uma história humana e de como as pessoas se perdem e se arrependem nas tentativas de construir relacionamentos e vínculos. Muitos de nós até perdemos a esperança, não nos tornamos pessoas otimistas e desacredita no amor sincero e verdadeiro entre duas pessoas. As vezes a única relação que não se perde no tempo é a familiar e esta acaba se tornando a âncora segura onde os filhos sempre retornam afim de se recompor.
Bruna Marquezine é Bia a melhor amiga de Victor, personagem de Sérgio Malheiros. Bia e Victor construíram uma amizade muito pura, simples e honesta com o passar dos anos. Eles são aqueles amigos que têm seus apelidos internos: Bia é Silvio – por causa de sua péssima imitação de Silvio Santos e ela chama Victor de Fausto pelo mesmo motivo. A amizade dos dois é moldada pela força da parceria e da alegria. Um acaba se tornando “a pessoa” do outro, o motivo do outro sorrir, o amparo do outro. A série, nos seus 10 episódios desta primeira temporada também desenvolve alguns personagens coadjuvantes como Marcelo (Danilo Mesquista); o casal Helena (Pamela Morais) e Erika (Agda Couto) e também amigas de Bia e Victor e Luiza (Malu Rodrigues), com quem Victor está casado há alguns anos.
A série tem como narrativa central os desamores de Bia e de Victor. Bia é aquela jovem pessimista que desacredita no amor. Ela ainda possui uma personalidade difícil e de trejeitos desconcertantes, pois, por não acreditar na possibilidade de um amor verdadeiro, ela não se relaciona verdadeiramente e constrói sua juventude nas desilusões amorosas com todos que se relaciona. Neste ínterim, aparece Marcelo, com quem Bia cede à tentativa de dar uma chance. Resultado? Mais uma desilusão... A cena em que Marquezine se joga numa caçamba de lixo e que Victor vai ao seu socorro é uma das pérolas desta temporada. O criador da obra, Matheus Souza, não se intimidou em dar à personagem um caráter exagerado ao sentimento dramático de uma jovem que passa a desacreditar até mesmo em seus dons.
Victor faz o papel do bom amigo e do mais centrado e ajuizado. É sempre ele quem socorre. Digamos que ele é o ponto de apoio de Bia. Dificilmente Bia o socorre, acontece, mas numa proporção menor. Quando Victor descobre a traição da esposa seu mundo cai. Marcos Souza, no entanto, percebe que igualar a desilusão de Victor à de Bia criaria um conflito de personagens que estariam sofrendo na mesma altura. Portanto, temos um Victor que dá a volta por cima com mais facilidade. Não que seja de um jeito honesto e certo, mas Victor acaba resolvendo seu “problema” voltando à vida de solteiro e buscando sexo e relacionamentos sem compromisso. Entre uma e outra, ele conhece Paula (Rayssa Bratillieri), uma garota do JOB com quem acaba frequentando a cama de Victor por mais de um ano. Victor é um homem que não tem a infeliz capacidade de blindar seus sentimentos como Bia tem. Então, ele acaba se relacionando com Paula de um jeito mais profundo e isto acaba o lançando em mais uma desilusão.
Obstinada em conseguir sua tão sonhada carreira de atriz no Rio de Janeiro, Bia ainda carrega o trauma de “não ser boa o suficiente” naquilo que se propõe a fazer. Entre um teste e outro ela não consegue emprego e vive no sufoco financeiro. Sua juventude é uma coleção de derrotas e perdas e nada do que se propõe a fazer parece dar certo. Sua única empreitada de sucesso é sua amizade com Victor e a busca dos dois pelo sonho de padaria perfeito. Uma mini narrativa tão fofa e simples, mas que acaba se tornando um gesto grandioso de amizade e de amor. A cada tentativa, eles avaliam a massa, a porcentagem do doce, o acabamento e essa busca pelo sonho perfeito acaba se tornando metáfora pela própria busca, pelos próprios sonhos...
Matheus Souza assinou o roteiro e a produção teve a impecável direção de René Sampaio e Tatiana Fragoso e codireção da própria Marquezine. O roteiro é outro mérito da série. Com diálogos muito bem elaborados, conflitos tensos e intensos, a fotografia também é outro ponto super positivo. É muito gratificante estarmos diante de uma produção que tem clareza no que quer contar e filma de acordo com o que a história pede. Os coadjuvantes, mesmo que não tendo suas histórias abordadas com mais tempo de tela, também conseguiram chamar a nossa atenção. De forma discreta, mas muito forte, Sampaio e Fragoso não deixaram de lado os sonhos de Erika e Helena, e mostrar o casal com a conquista da primeira filha delas foi emocionante. A presença da família de Victor em um dos episódios e a relação de Bia com a mãe, também foi outro acerto.
Por fim, a cereja deste bolo está nos limites da amizade e do amor. Onde uma termina e a outra começa? Precisa de encerrar uma para que a outra possa encontrar espaço? Parece que Bia e Victor precisam aprender a lidar com isso. Estamos lidando com dois elementos que são diferentes em sua essência. O amor é sentimento, a amizade é virtude. Portanto, não precisa de parar de ser virtuoso, ser amigo para sentir o amor. Um nunca roubará o espaço do outro. Eles coexistem e podem coexistir. Um amor verdadeiro, para existir e ser forte, precisa da amizade, pois é ela que vai cobrar lealdade, sinceridade, honestidade, fidelidade, parceria, companhia e veracidade. O amor não exige essas coisas. Talvez, para que nossas desilusões não aconteçam mais, precisamos encontrar a “nossa pessoa”, aquela amizade que não importa o lugar, só nos importa com quem...
Por Dione Afonso | Jornalista