05 Nov
05Nov

A música de luto.

O sertanejo de luto.

Um país em luto. 

A viola... luto!

Não vamos ter condições de rimar.


"Enxugue esse rosto

E venha aqui fora como de costume

Vamos conversar,

Pra te alegrar tem até vaga-lumes.

Tem dia que vai piorar,

Saudade vai apertar,

Até que "cê" tá indo bem

Faz falta aqui pra mim também".

(trecho da música: "Estrelinha" regravada por Di Paullo e Paulino com participação de Marília Mendonça).



Mas podemos revisar tanta coisa...

Com a partida de forma precoce e tão trágica da cantora e compositora Marília Mendonça, temos muito a aprender. Marília não era só uma cantora, uma compositora, uma marca. Ela era, sobretudo, parte de uma transformação de nossa sociedade ocorrida recentemente. O Brasil é reconhecido mundialmente pelo samba e bossa nova, mas a música que realmente traz a história do país consigo é o sertanejo. Desde Zilo e Zalo, Mário Zan, Tonico e Tinoco, Tião Carreiro e Pardinho entre outros, a música sertaneja se fundamentava e se consagrava como marca de um povo. Mas somente nos anos 80, com Roberta Miranda, a música sertaneja teria uma representante feminina em um meio musical predominantemente masculino. 

Havia outras cantoras que tiveram sucesso, mas nenhuma se manteve entre a "elite do sertanejo". Até então, as músicas contavam histórias e traziam casos e experiências vividas no Brasil, sobretudo no sertão. Entre as muitas renovações da música sertaneja, todas elas colocavam a mulher como segundo plano nas letras das canções: hora como a desejada e disputada, hora como a malvada, a infiel. Por décadas o machismo tomava formas que passavam despercebidas. Até uma compositora trazer uma novidade. Era apenas uma garota, e já tinha músicas gravadas por duplas masculinas que estouraram e fizeram de Marília Mendonça uma personagem conhecida no meio musical. Não demorou muito, e seu sonho de ser reconhecida com seu outro talento, o de interpretar suas próprias canções, tornou-se realidade.


Mas o que a tornava um fenômeno? 

Era o tal empoderamento feminino, mais tarde chamado de "feminejo". 

Ela trazia em suas letras histórias amorosas vividas por ela, e dava uma renovada na forma das mulheres se verem representadas pelas artistas. Uma luta de igual pra igual. Afinal, se o homem pode, a mulher pode também. E daí veio muitos sucessos, sobretudo, a música "Infiel", que seria a mais tocada do ano de 2016 e atualmente tem mais de 500 milhões de visualizações no YouTube. Num país machista e também gordofóbico, Marília Mendonça também trouxe uma autoestima aos padrões tidos como "fora de moda" e muito ajudou na aceitação de pessoas que não se conformavam com seu corpo. 

Recentemente, com regimes e muitos exercícios, mostrou que é possível ter uma melhora muito além do simples visual, mas também na saúde física e psicológica. Marília Mendonça quebrou paradigmas. Foi muito mais que um fenômeno. Mudou a música sertaneja. Mudou a vida de muitas mulheres.Trouxe projetos musicais femininos como a parceria com Maiara e Maraísa.


Ela será ouvida por décadas.

Ela será estudada assim como estudam Tião Carreiro e Mário Zam pra se entender como pensavam e quais as influências causadas com seu trabalho na música.


Enlutados, entristecidos, nós lamentamos a morte precoce de Marília Mendonça e as outras 4 vítimas do acidente aéreo ocorrido em 05 de novembro de 2021 no interior do Estado de Minas Gerais, entre as mais belas montanhas do Brasil. Mas não podemos esquecer de outras mais de 600 mil mortes recentes que tivemos de forma antecipada por uma doença no qual já temos vacina.

Toda vida vale a pena!

E toda morte é sofrida e chorada.

Que possamos trilhar nossos caminhos e tirar o melhor proveito desta vida que temos, pois ela é única e temos de aprender a viver. 


Sigamos firmes, esperançosos, sensíveis e alertas com tudo o que acontece em nossa sociedade e quem sabe assim a transformemos em uma sociedade melhor para as gerações futuras?

Por hoje estamos tristes. 

Estamos na sofrência, perdemos uma rainha.  Perdemos a mãe do sertanejo.


"Tão espalhando por aí que esfriei, que eu tô mal. Que eu tô sem sal. Realmente eu tô..." Sim, Marilinha! Todos nós estamos, morrendo de saudades de você. ... "ninguém vai sofrer sozinho, todo mundo vai sofrer". Todos nós estamos sofrendo!


Por Mínison Domingos  |  Matipó-MG

05 de novembro de 2021 

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Foto: Reprodução via twitter. 

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